O que faz um músico virar ícone pop?
ou Relembrando a aparição de Moby nas minhas duas séries favoritas
Em 2005, a primeira temporada de How I Met Your Mother já estreava alguns dos episódios mais icônicos de toda a série. Entre tapa-olhos, uma estátua lambida, um abacaxi e muitas horas do Ted sendo a pior pessoa do mundo, o décimo primeiro episódio, The Limo, contava a história da véspera de ano novo em que o grupo passaria a primeira virada juntos. O episódio que incluía a aparição do ‘popular recording artist’ Moby.
Acontece que não era o Moby. Era o Eric. Que carregava uma arma. E roubava CDs gravados em casa. Mas sem problemas; até porque uma coisa é lógica: todo careca é igual.
Em 2011, a terceira temporada de Community estreava o que viriam a ser os últimos episódios da era de ouro da série. Entre linhas do tempo alternativas, um forte de travesseiros gigante, um inhame assassinado e muitas horas do grupo de estudos sendo as piores pessoas do mundo, o décimo segundo episódio, Contemporary Impressionists, contava a história do dia em que o grupo foi contratado para trabalhar em um bar mitzvah como Bruce O Artista por um dia. No meio de dezenas de imitadores presentes na festa, o episódio incluía a aparição de um cosplay do DJ Moby.
Logicamente, não era o Moby. Era Jean-Paul Manoux. O mesmo ator que havia interpretado Moby em HIMYM 6 anos antes. Tudo bem, todo careca é igual; mas aqui a coisa foi além.
Por que eu tô falando tudo isso?
Ao contrário do que o título desse texto pode sugerir, certamente o Moby não é lá o que a gente se acostumou a chamar de um “ícone pop”.
Mas pra um artista relativamente obscuro, fazendo um estilo específico de música eletrônica não pensada pras pistas (electronica, downtempo, ambient pop, trip hop, folktronica ou qualquer que seja o rótulo), aparecer em duas das séries de comédia mais aclamadas do século 21, alguma coisa de icônica ele tem que ter.
E na verdade ele tem mesmo.
O álbum mais famoso do Moby se chama Play, lançado em maio de 1999. Algumas das 18 faixas do disco de aproximadamente 1 hora são bem conhecidas, como são os casos de Porcelain, Why Does My Heart Feel So Bad? (quem nunca?) e Natural Blues.
Antes mesmo de assistir aos episódios, eu já sabia da existência do Moby. Como um fã de música gestado na internet, há certas bandas e artistas que fazem parte do conhecimento coletivo de toda essa comunidade – nem que seja apenas de ouvir falar em um site aqui ou um fórum ali. A contrapartida de conhecer tantos nomes é que uma infinidade deles acaba ficando exatamente nisso: no nome. Por muitos anos, o Moby me foi exatamente isso.
Até que um dia eu resolvi escutar o álbum. E puta que pariu.
Play é fantástico. Há aqui um trabalho de sampling que transforma canções de folk e gospel em todos aqueles estilos específicos de música eletrônica não pensada pras pistas que eu falei ali em cima. A faixa Honey, que abre o disco, é um primor de exemplo.
Mas não são apenas os samples. O álbum pulsa criatividade. De Natural Blues para Machete, um electronica carregado de pianos e vocais de blues dá lugar ao techno reto que deu fama ao Moby na primeira metade da década de 90.
É muita variedade.
É um caldeirão.
E não foi nada disso que fez Play ser o sucesso mundial que transformou Moby em um quase ícone pop.
À época do lançamento de Play, o último álbum lançado por Moby havia sido Animal Rights – um fracasso comercial e crítico. Nada o fazia acreditar que o próximo seria diferente. Em uma entrevista três anos depois, ele chegou a afirmar que, quando finalizou o processo de mixagem, um dos primeiros pensamentos que teve foi:
“Quando esse álbum sair, vai ser o fim da minha carreira. Eu deveria começar a pensar o que mais eu posso fazer”.
Até que o lançamento veio.
A princípio, as suspeitas se confirmaram. As primeiras semanas foram fracas e aquele sucesso inicial não aconteceu.
Então uma ideia diferente entrou em cena.
Ao invés de depender de estações de rádio e da MTV, a estratégia foi a de licenciar as músicas do álbum para uso em filmes, programas de TV e comerciais. A ideia era fazer com que o projeto chegasse até as pessoas – de uma forma ou de outra.
Deu certo.
Em janeiro do ano seguinte, Play entrou novamente nas paradas de álbuns mais tocados do Reino Unido.
Em abril, atingiu o topo da parada e manteve a posição por 5 semanas.
Em outubro, já havia conquistado certificado de platina em 17 países.
Hoje, com mais de 12 milhões de cópias vendidas, é o álbum de electronica mais vendido de todos os tempos.
O impacto não foi pequeno – e apesar de muita gente menos ligada em música fora do mainstream não fazer ideia de quem ele seja, faz total e completo sentido o Moby estar no imaginário popular dos Estados Unidos nos anos 2000.
Mais de 20 anos depois, Play continua tendo o mesmo brilho que já tinha em 1999. Pra quem ainda não conhece, fica a indicação. Pra quem já ama, um convite ao retorno.