No último dia 12 de junho, a Recording Academy anunciou a criação de duas novas categorias para a próxima edição do Grammy Awards – e uma delas me arrancou um sorriso. A partir do ano que vem, teremos a premiação de Melhor Capa de Álbum.
Eu sempre fui fascinado pelas artes que acompanham os discos. Na maioria dos casos, elas transmitem o clima, a vibe que aquele determinado álbum carrega, e podem até complementar a mensagem contida no projeto.
Em outras situações, a gente também têm as capas que se contentam em ser experiências puramente sensoriais – e aí eu tô falando desde um Unknown Pleasures até um In The Court of The Crimson King e inclusive um Baby G.O.A.T.
Mas tem toda uma história por trás da notícia, e eu preciso ser um pouquinho mais justo do que falar que “finalmente-o-Grammy-criou-a-categoria-de-melhor-capa-de-álbum”.
Lá na primeira edição do prêmio, em 1959, já havia uma categoria de melhor capa – que foi (injustamente) vencida por ninguém menos que Frank Sinatra.
Em meio a separações e divisões de categoria ao longo dos anos, o que começou sendo um prêmio de melhor capa de álbum passou a ser Best Package, algo muito mais amplo e que envolve dezenas de outras coisas que vão além da arte da capa em si.
E tudo bem. Um prêmio desses mais que fazia sentido em um mundo onde os discos realmente eram consumidos em packages; nesse passado que já parece tão distante, um prêmio desses era obrigatório.
Muito antes do streaming, houve um tempo em que as embalagens que armazenavam os álbuns eram experiências à parte. Os Rolling Stones colocaram um zíper em Sticky Fingers, o Velvet Underground nos convidou a descascar uma banana em The Velvet Underground & Nico, e o Jethro Tull elaborou todo um jornal em Thick as a Brick. Como é que a indústria iria deixar de ter um reconhecimento específico pra esse tipo de coisa?
Acontece que, no momento em que a gente vive, isso não existe mais.
Eu não encontrei nenhuma pesquisa que corroborasse essa informação e trouxesse dados concretos, mas é muito fácil, intuitivo e certeiro afirmar que a esmagadora maioria dos projetos musicais lançados hoje se limita à mídia digital. Vinis, K7s e CDs são relíquias de outros tempos – apesar de um movimento contrário estar começando a acontecer de uns anos pra cá (a gente ainda vai falar sobre isso aqui no Show).
A questão central é que, com a ascensão do formato digital e a queda brusca da mídia física, a categoria de Best Package se tornou insuficiente pros padrões da indústria. Jamais ultrapassada, porque todo o aspecto visual de um álbum pode (e deve) ir além da capa, mas não é sempre que o artista tem os meios necessários pra fazer esse trabalho.
Na era do streaming, em que a gente raramente segura nas mãos aquilo que escutamos, muitas capas se tornaram meros JPGs. Incapazes de ganhar um prêmio de Best Package, mas ainda merecedoras de serem coroadas como Melhor Capa de Álbum – e é por isso que a criação dessa categoria é tão importante.
Pra mim, o exemplo às avessas mais claro dessa distinção entre capa e package — e que evidencia na prática o que eu tô falando — é o fenômeno BRAT. Na edição de 2025 do Grammy, foi o bebê da Charli XCX que ganhou o prêmio de Best Package. E faz sentido, não faz?
Apesar de baseado em uma arte simples e até tosca num primeiro olhar, todo o projeto visual do álbum – muito além da capa – foi provavelmente o maior responsável pelo sucesso do disco. A gente tá falando de:
Outdoors
Memes
Gerador de imagem
Um perfil trancado no Instagram (que aceitava todo mundo que pedisse pra seguir) que fez os fãs se sentirem mais próximos
Capas dos outros álbuns sendo alteradas para versões bratzadas (nunca vou perdoar a Charli por essa)
Todo o conceito de BRAT summer
O prêmio não só faz sentido: ele foi merecido pra caralho. BRAT foi o Best Package de 2024. E a competição é desleal. Mas ele foi a Melhor Capa de Álbum? É claro que não.
Only God Was Above Us, do Vampire Weekend.
HIT ME HARD AND SOFT, da Billie Eilish.
ten days, do Fred again…
Diamond Jubilee, de Cindy Lee.
Imaginal Disk, da Magdalena Bay.
Só alguns exemplos de capas no mínimo mais interessantes que BRAT.
Mas tu não precisa concordar comigo. Quero dizer, tu pode achar que BRAT foi a melhor capa de 2024. Eu vi gente se jogando pros dois lados dessa discussão na internet. Pra uns, minimalismo genial; pra outros, autoindulgência preguiçosa. E é exatamente nisso que tá a grande beleza dessas artes que acompanham os nossos discos favoritos: tem uma pra cada tipo de pessoa; cada humor; cada gosto.
Pra cada Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band existe um White Album. Não dá pra afirmar categoricamente que o design pomposo é sempre melhor que o simples mas efetivo. Vide BRAT.
Essa conversa vai longe. Então é bem isso que a gente vai fazer: conversar. Eu tenho minhas capas de álbum favoritas, e tenho certeza que tu também tens as tuas. Comenta aqui embaixo quais são as capas que tu mais gosta e por que tu acha elas tão boas.